terça-feira, 23 de setembro de 2008

Festim




Uma luz brilhante invadiu os céus, por momentos tudo ficou em silêncio, sentiu a luminosidade branca invadir-lhe as pálpebras, e quase cega-lo apesar dos olhos bem fechados, os tímpanos contraiam-se, e só ouvia um silvo, de repente abriu os olhos e viu avançar um onda de destruição na sua direcção, foi empurrado para trás ficando colado ao metal do carro de guerra, nem um segundo depois veio um calor infernal que lhe arderam os cabelos e pelos e queimando-lhe a pele até à carne, fazendo-a estalar e cair. Desfaleceu. Que sorte, estava vivo! E a guerra ia longa! No campo de batalha jaziam esqueletos já mumificados , o chão crivado de balas, e esburacado pelas bombas de fragmentação que estilhaçavam a paisagem circundante, as árvores mortas eram o único ser de pé, a cor predominante era o cinzento no chão e o amarelo duma névoa de gases químicos e atmosfera estéril no céu.


Na trincheira o Soldado tinha perdido os seus companheiros, o General morto há dois dias que cheirava a carne em decomposição era carvão, pelo binóculo observava no horizonte o inimigo. Vivalma. Barulhos de explosões preenchiam o seu espaço, olhava em volta e nada. sons de vozes mecânicas voavam por cima, pedindo a rendição e capitulação. Alucinava. Agachado dentro do seu tanque camuflado e meio enterrado, disparava um último morteiro sem apontar, como que a dizer que ainda ali estava. Tapou os ouvidos e seguiu o caminho do projéctil que se despenhava sobre a trincheira adversária. Não sabia o resultado de tal acção. O rádio avariado, transmitia interferências, o radar partido nada indicava. Não iria abandonar o seu posto, teria de procurar munições, avançou uma trincheira e procurou no meio dos escombros algum cadáver recente para se alimentar e munições para carregar a sua M4-mk. Não havia carne nos corpos e tudo estava incinerado e calcinado. Achou um par de granadas e um cantil. Era o seu dia de sorte naquela trincheira.Tirou a cabeça de fora e a poeira começava a assentar. seguiu em frente, caminhou quilómetros, alcançou uma floresta, composta apenas por troncos quebrados e negros sem uma única folha ou ramo. Subia por uma colina, que antigamente vibrava de vida, com o chilrear dos pássaros e os barulhos de raposas e lebres que passavam entre a vegetação, agora a terra estava petrificada e a floresta tinha desaparecido, sabia que dou outro lado, no vale havia uma vila, chegou ao cume e viu uma massa de cimento e cinza, as casas sumiram-se o alcatrão das ruas misturava-se com o metal retorcido dos carros e de esqueletos a eles grudados. Procurava um sinal de vida naquela paisagem horizontal negra, perdia-se, não distinguia as ruas das construções, tudo era uma amalgama de escombros cravados no chão e arrastados pela terra. Encontrou por acaso um abrigo, entrou e viu pela primeira vez cores. Uma escada de mármore, um corrimão de metal levavam-no a uma cave, descobriu uma adega, uma mesa comprida no centro, com dois banco um de cada lado com o mesmo comprimento da mesa. As paredes com fileiras e fileiras de garrafas armazenadas e na parede do fundo, presos com pregos presuntos e chouriços formavam um fumeiro. Sacou dum presunto, e de duas garrafas. sentou-se na mesa e comeu desalmadamente. Quase que rebentava de tão cheio, esboçou um sorriso por encontrar algo familiar, o que antes seria um lar. Acabou por adormecer estendido com os braços e a cabeça sobre a mesa. Não sabe quanto tempo tinha dormido. levantou-se pegando numa garrafa, por detrás dos enchidos uma pequena porta, estava fechada à chave. Disparou á fechadura e arrombou-a em seguida, lá dentro uma sala de garagem. Havia um carro antigo, várias ferramentas, pneus por todo o lado, e sentia cheiro a óleo, havia um portão que a muito custo abriu para fora, encontrava-se no meio da vila outra vez. caminhava sem destino, olhava à volta e observava a morte em todas as direcções, deitou a arma fora, o uniforme e as botas. Entrou novamente, fechou a porta, e sentou-se novamente. Pôs a mesa, dispôs os enchidos por categorias e garrafas de diferentes anos e qualidade à sua frente. Deu graças e começou a cear. Era o talvez o último homem, venceu a batalha portanto, estava em casa, reconstruiria um lar e a vila! Auto-intitulou-se de presidente da câmara e deu vivas! Tudo isto merecia um festim!










de z. do blogo para b. desconstruir... Ao bom estilo de K.S.


R.S.V.P.

2 comentários:

as velas ardem ate ao fim disse...

Olha palavras paar quê??

Tu escreves muito bem.e pronto.

um bjo

Sónia disse...

No fim sobrevive o gosto a vitória…não pelo festim mas pela força, pela sobrevivência, pela fé no amanhã… Excelente, o meu coração bateu mais forte á espera da morte que (ainda) não chegou…